Quanto vale um Raio X
Hoje pela manhã, passei por uma situação que me fez lembrar daqueles e-mails que a gente recebe contando de casos onde pessoas são dopadas e tem seus órgãos retirados e vendidos no mercado negro. Explico para vocês.
Como todos os dias, acordei e saí para o trabalho, mas no meio do caminho, um imprudente motociclista surgiu na minha frente (também ando de moto). No reflexo, para não me chocar contra ele e dá de cara com o asfalto, subi o canteiro da Av. Mister Hull, quase em frente à faculdade de Agronomia e voei para o outro lado pista.
Milagrosamente nada sofri, exceto um grande susto e uma enorme sensação de impotência diante do acontecido. Eram quase 8 horas da manhã e estava eu lá, no meio da rua após um voo sobre o canteiro de uma avenida movimentadíssima, chorando, esperando por socorro.
Como ninguém se prontificou a me ajudar, segui para casa da minha irmã. Depois do choro, percebi que algo em mim doía muito, meu ombro direito estava machucado pelo impacto da pancada no meio fio do canteiro.
Procurei um hospital da rede pública que atendesse urgência traumatológica. Fui ao Hospital Gomes da Frota, lá disseram que eu seria atendida mediante boletim de ocorrência do acidente, cópia da minha CNH e do DUT da minha moto. Seria utilizado nesse caso, o Seguro Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre, o DPVAT.
Até aí tudo bem, afinal de contas pago anualmente quase R$ 300,00 por esse seguro e nada mais justo que ter direito a ele quando houver necessidade.
Estaria tudo bem, se as pessoas do hospital não tivessem insistido para que minha irmã fosse imediatamente à uma delegacia registrar o B.O. no meu lugar, e se eles não tivessem se recusado em permitir que eu não ficasse sozinha no hospital até que o radiografia e o laudo médico fossem feito. Estaria absolutamente tudo dentro da normalidade, se eles não tivessem feito eu assinar um internamento, sem eu saber do que se tratava.
Tudo estaria normal, se eu não tivesse sido levada por um corredor escuro do hospital, até um quarto que me recusei ficar, e que a enfermeira de plantão queria me convencer que eu precisava ficar internada até a chegada do médico às 15h.
Fiquei confusa, sem entender porque eu tinha que ficar sozinha, internada num quarto de hospital esperando para que o médico visse um raio x, que o mais leigos dos leigos, sem grandes dificuldades chegaria à conclusão que não havia nenhuma fratura ou algo que justificasse meu internamento.
Mas aí, a ficha caiu! Minutos antes de ser conduzida até o quarto, vi um cartaz do Governo do Estado do Ceará onde esclarecia sobre o uso do DPVAT que pode ser solicitado em caso de morte, invalidez e despesas médicas, que era o meu caso.
Para essa situação, diz-se o seguinte:
REEMBOLSO DE DESPESAS MÉDICO-HOSPITALARES DAMS
Situação coberta: reembolso de despesas médico-hospitalares pagas por pessoa física ou jurídica pelo tratamento de lesões provocadas por veículos automotores ou por cargas transportadas por esses veículos.
Valor do reembolso: o valor do reembolso é de até R$ 2.700,00 por vítima, variando conforme a soma das despesas cobertas e comprovadas, aplicando-se os limites definidos nas tabelas autorizadas pela Superintendência de Seguros Privados - SUSEP.
(Fonte: http://www.dpvatseguro.com.br/conheca/oquee.asp)
Pronto, era isso! Um raio x, naquele momento estava valendo R$ 2.700,00 que talvez fossem pagos ao Hospital Gomes da Frota, que prontamente fez questão de me internar e sabe lá Deus, mais o que, eles teriam feito para me manter presa naquele lugar horroroso!
Presa sim, porque a enfermeira insistia em dizer que eu tinha que ficar internada para tratar uma possível fratura ou ruptura de um ligamento, que ela cogitava existir, mesmo sem médico ter olhado ao menos para mim.
E quer saber mais? Depois de eu dizer repetidas vezes que não ficaria internada simplesmente para saber o resultado de raio x, falei com todas as letras para enfermeira que sabia que o motivo de tanto empenho para eu ficar internada era o DPVAT.
Depois disso, a gentil moça surgiu com um envelope branco, contendo a radiografia e me cobrando R$ 30,00 pelo serviço.
Saí de lá fugida, com medo de ser capturada pelos funcionários do hospital e ter que pagar a quantia cobrada.
Achei que isso só acontecia em filmes de terror, suspense ou coisas do gênero, mas aconteceu comigo, na manhã do dia 13 de agosto de 2009, no Hospital Gomes da Frota, em Fortaleza.
Há 3 dias